04/01/2013

Dor

Era um domingo comum. Uma tarde comum. Era pra ser um passeio comum. Eu estava indo ao parque com meus pais, buscar minha irmãzinha para leva-la para a casa. O farol abriu e meu pai acelerou, tarde demais pra ver o que ia acontecer. Um caminhão vinha na direção contrária, a toda velocidade. Olhei assustada segurando-me mais ainda no banco da frente. Ele deveria ter parado não? O impacto foi inevitável. Senti uma pancada do lado direito do carro, barulhos estridentes de vidros se quebrando e metal sendo arranhado. Gritei. O carro girou algumas vezes, bati minha cabeça e meu corpo ia sendo lançado de um lado para o outro, mesmo com o cinto. A dor era terrível. Perdi as contas de quantas vezes o carro capotou. O pânico me invadia e flashes de sorrisos passavam em minha cabeça, até a imensa escuridão chegar. O carro havia parado. Olhei para minha mãe, ela sorria para mim sem felicidade nenhuma, lágrimas me vieram aos olhos. Ela estava encharcada de sangue. Olhei para meu pai, suas órbitas estavam vazias, havia um enorme machucado em seu rosto. Ele já se fora - pensei começando a chorar. Cada centímetro de mim doía. Minha mãe estendeu a mão para mim, e eu peguei, lembrando de como as pessoas me diziam que eu parecia com ela. Mamãe não iria mais aguentar por mais tempo.
 - Eu te amo - ela sussurrou. 
 - Eu também te amo - disse olhando pra ela. Sua mão deslizou da minha - Mãe? Mãe? - gritei para ela, mas não obtive resposta. Comecei a chorar. Meus pais estavam mortos, bem ali na minha frente, e algo me dizia que eu teria o mesmo fim. Cada centímetro do meu corpo doía e minha visão começava a vacilar já. Tateei meus bolsos em busca do celular, precisava fazer mais uma coisa. Ouvia vozes lá fora já. Disquei o número assim que encontrei o celular, eu estava tremendo muito. Juliana? disse a voz do outro lado. Como era bom ouvir aquela voz, reconfortante. Chorei mais alto. 
 - Julie? O que aconteceu? Fala comigo por favor.
 - Meus pais...eu - não conseguia dizer, parecia que algo estava entalado em minha garganta. 
 - Julie o que houve? - disse ele preocupado.
- Felipe, estou vendo meus pais...mor...tos, eu...eu...
 - O quê? Onde você está? Calma, tudo vai ficar bem 
 - Não - disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Minha visão ia e voltava e eu já não sentia minhas pernas - Siga sua vida...e... Eu amo você Felipe.
- Eu também amo você Juliana, agora me conta o que está acontecendo? - ouvir que ele me amava era o bastante. A força de meus braços estava acabando, vacilei e o celular caiu da minha mão. Ouvia Felipe gritar meu nome do outro lado da linha. Ouvi barulho de sirenes. Eu só queria que a dor parasse. Lentamente fechei os olhos. Meu celular tocou e eu sabia que era o Felipe pelo toque. Sorri uma ultima vez e então mergulhei numa escuridão sem fim. Num lugar aonde o barulho não chegava. Onde a dor não existia mais. 

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