30/07/2013

Antítese


Conhecedora de tudo, sabia muito mais sobre os outros do que de si própria. Dizia-se antítese ambulante por não saber se amava o calor matinal, a lua, a noite, e temia o escuro. Não sabia qual rua pegar, qual caminho seguir, só sabia que precisava ir. Por vezes sentia se sozinha, por vezes saturada, conseguia achar soluções para todos, menos para si mesma. Disfarçava as lágrimas pelas duvidas que a assolavam e sorria sempre ao sentir o vento bagunçar seu cabelo. Ela era complicada, mas gostava de enxergar as coisas com simplicidade. Não se reconhecia no espelho, mas sabia muitas vezes o que seu coração desejava.

26/07/2013

Levar

Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs. Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui.

(Caio Fernando Abreu)

22/07/2013

Noite


A escuridão da noite me fascina, me distrai, me abstrai. Faz pensar em tudo e imaginar o nada. Faz querer você aqui ou eu ai. Faz te querer. Mas também tenho medo, medo do que ela esconde, do que em cada canto escuro possa ter. Medo do desconhecido, do inevitável e do surpreendente. Uma antítese se forma ai, não amo demais, mas também não odeio. No ponto certo. É, amo o desconhecido, mas o temo também.

19/07/2013

Eu

Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!"

Tati Bernardi

16/07/2013

Parafernália


O chá sobre a mesa esfria após mais uma discussão, ela está sentada à mesa com uma lágrima manchando o rosto, ele está no sofá fingindo ver televisão. Ela respira fundo esperando se controlar para não ir mata-lo, ele fecha os olhos querendo que o pesadelo acabe. Ambos sabem quem está errado, ambos sabem quem provocou mais, e odeiam estar assim. Não foi assim que ela imaginou as coisas, mas já estava se acostumando. Ele disse que iria mudar, mas foi difícil se controlar. Os segundos se arrastavam, eles não podiam ficar assim para sempre. Ele levantou do sofá e caminhou até a cozinha, onde ela estava com a cabeça abaixada – e sequer a levantou. Ele chegou perto dela, agachou do seu lado e colocou uma mão em seu queixo, levantou o rosto dela e olhou naqueles olhos pretos hipnotizantes. Um pedido de desculpas foi dito em silêncio, por ambas as partes. Ele então a abraçou, embalou-a com os braços e a aqueceu com seu calor, nenhuma futilidade iria dividi-los. Abraçados ficaram a noite inteira, um amando o outro e sorrindo, o frio lá fora dava espaço ao calor ali dentro . Se no fim tudo acabasse assim, então estava tudo bem.

12/07/2013

Decorei


Decorei seu sorriso nos meus lábios, gravei seus braços nos meus. Sei de cor seu cabelo bagunçado e o olhar às vezes tímido, às vezes bravo, até travesso. Te estudei e não me formei ainda, uma caixinha de surpresas em constante transformação. Espero tua mão encontrar a minha, seus braços me envolverem e uma mordida de leve. Espero parar com toda a parafernália de quinta que geram nossas brigas. Espero. Espero o café ficar quente no fogão enquanto a gente se ama no sofá embaixo das cobertas enquanto passa um bom filme. Te espero de braços abertos, até com o coração se for preciso, mas venha e não demore, mas sim demore pra partir.

05/07/2013

Ponto de ônibus

Sabe, quando te vi sentado ali naquele ponto de ônibus...
Calça jeans, camiseta lisa, all star e meu livro favorito nas mãos.
Como não me apaixonar?
Como não me imaginar ao seu lado, discutindo sobre o final cômico?
Nos imaginar em uma tarde quente de domingo.
Pipoca, chocolate e Brilho Eterno de uma mente sem lembranças na TV.
Em sua cama, beijos, risadas e nossos roncos.
O ciúme que causou aquela briga, tapa na cara e reconciliação ao som de Clarice Falcão.
Nosso primeiro dia dos namorados, abraços e piadas que só nós entenderíamos...
Nesse momento paro.
Penso.
Como consigo me apaixonar por qualquer cara que me parece interessante?
Você se levanta e te vejo partir em seu ônibus que acabou de chegar.
A propósito, era esse o ônibus que eu também deveria pegar.

01/07/2013

Pena


A noite estava fria, mas não era isso que a fazia ficar gelada por dentro. O corpo dele quente ao lado dela parecia ser muito atraente, um rápido flash passou pela sua mente, de outros tempos, de outra vida, de um passado não tão distante. Eles conversavam como se nada fosse importante, vez ou outra até sorriam. Ele era esperto e sabia tirar proveito das situações, ela ansiava por calor de um corpo. Juntos caminharam até o local que ambos conheciam muito bem, uma história tinha sido ali formada. Ele se aproximou e a olhou nos olhos enquanto o coração dela se acelerava, depois de muito tempo ele cedia a vontade que há tempos guardava para si mesmo. Ela deixou com que ele se aproximasse lentamente, e antes de seus lábios se tocarem ela parou o movimento e sorriu como nunca havia feito antes, e se afastou sorrindo. Não valia a pena – não mais, não com ele, tampouco por ele.